Olá! Bem-vindo a este mini-discurso que provi, espero que seja boa a leitura!
Muitas são as coisas que o passado tem a envolver-nos, podem e advém de conteúdos retransmitidos sobre séculos e séculos de história e cabe aqui notar que vão influenciar o meio que vivemos e também agimos em relação ao nosso ambiente, indo de encontro com aspectos do inconsciente de povos de todo o mundo, nosso ser-no-mundo constituem duas modalidades.

Uma das perspectivas ressaltadas foram as pesquisas conduzidas pelo Professor e Cientista das Religiões, Mircea Eliade com influência nos seus estudos mitológicos que buscou notar aspectos relativos a diversos povos em foco, as histórias sagradas de seus povos.

Notando pontos comuns entre todas, uma das características observadas como a essência das religiões em oposição ao que concebeu ser o meio como as pessoas entendem o mundo moderno, uma oposição entre o Sagrado contra o Profano.

A definição dos Conceitos

O Sagrado como concebido por Eliade constitui: O lugar, objeto, localidade, símbolo, com relevância para determinado grupo ou sujeito. O Profano significa o contrário de tudo apresentado, todo o dia a dia, os fatos e a rotina.

Utiliza também o termo, Hierofania (do grego, hieros = Sagrado e faneia = manifestação)

As Bases para a Fundamentação Dialética de Mircea Eliade

Mircea Eliade foi profundamente influenciado por outro pesquisador, Rudolf Otto, que quando teve suas contribuições ao estudo das religiões, que mudando o foco dos estudos geridos anteriormente nesses empreendimentos, consistia em análises etno-sociológicas com buscas em fundar preceitos teóricos eurocêntricos e como relações de culturas primitivas com base em seu ambiente cultural civilizado que foram influenciados por filósofos da história de caráter evolucionista, movendo assim as noções para algo especialíssimo e vendo as culturas por uma abordagem de relativismo cultural (pois cada povo tem sua história, fazendo o especialista etnólogo ou antropólogo formar-se bem a respeito de cada uma, sem comparações por seus próprios aspectos), que rendeu bons frutos para a ciência da mitologia comparada. Buscando compreender as narrativas míticas em torno da visão de seus povos por quais são vividos, afastou-se também da filosofia da religião que buscava debates conceituais sobre o transcendente, poder divino, etc. Sua busca voltou-se para a “experiência religiosa” ou o numinoso (poder divino) querendo compreender a revelação do Sagrado. Sendo isso a vivência, notou que isso não poderia ser apreendido pelas Categorias Racionais ou Conceituais (Kant). Esse sentido do Sagrado proposto por Otto é assim empregado.

Algo a que Otto se propõe: O deleite numinoso, foi compreendido como algo diferente de sentimentos fortes, do amor, (diferente do romântico em especial) alegria ou sofrimento. Esse sentimento só poderá ser compreendido em totalidade por aqueles que a experienciaram. Tenta Otto dar exemplos pessoais como um arrebatamento que não se esgota ou seja, embevecimento moral por boas ações, seu exemplo como cristão é: mistos de gratidão, confiança, amor entre outros. Foram empregados termos para discutir tais processos na medida do possível; mas que não serão abordados aqui em excesso, para citar são:

•Mysterium Tremendum [Arrepiante] (Um sentimento semelhante porém mais profundo do que o do medo, como algo sempre inesperado, quando a psique humana nota um pressentimento misterioso do sagrado).

• Mysterium Majestas [Avassalador] (Consequência do anterior, caracterizado por “inacessibilidade absoluta”, indica uma “supremacia absoluta do Sagrado sobre o Profano” como se estivesse na “presença do Senhor”.

Otto analisou o fenômeno enquanto Eliade busca a totalidade do valor do profano em oposição ao sagrado.

Retornando ao propósito inicial, tendo Otto como base para muito do que veio contribuir, Eliade buscou dar mais um passo a compreensão do Sagrado; veio então uma de suas contribuições, formulou a Concepção Dialética do Sagrado e do Profano, quando questionou o valor do profano diante da experiência do Sagrado e que esta emerge camuflada do profano mesmo o homem moderno não percebendo modo de ser do homo Religiosus que “vive sua religião e mitos” com seus arquétipos, se comprometendo com o rito: que é o mito vivo pelo qual se realiza uma história sagrada que não se prende ao tempo, pois é ativamente vivida. No cristianismo, os ritos de batizar não estão presos ao que foi um dia feito na história antiga da bíblia. Os mitos são uma realidade ativa.

Dialética do Sagrado e do Profano: O Homem moderno em oposição ao Homo Religiosus

O Homo Religiosus não é algo primitivo ou antiquado como alguns filósofos da história julgaram, ele reside justamente em algo em que o ser humano possui em suas entranhas, pois faz parte de seu passado, está preso consigo, não somos algo puramente livre de tudo ao nascermos, compartilhamos muito do que veio antes, também não somos duas etapas distintas (Moderno x Religiosus) de um mesmo processo de evolução do espírito que caminha para a autoconsciência (como pensa Hegel). O jeito de ser do homem moderno em relação a tudo considera que o cosmos seja dessacralizado, resume tudo e a todos em materialidade de seus atos, vontade e desejos são apenas reações fisiológicas, nada mais nada menos, trabalho significa trabalho e ócio apenas é o que é de imediato, o espaço, campos, parques, casas, tudo seria homogêneo pois tudo não difere de nada. Não existem símbolos em suas experiências. Existe um abismo entre o homem moderno e o Homo Religiosus, como compreender que um lápis, uma árvore, ou simples rituais contenham em si uma verdade?

Enquanto um busca a maior proximidade ao sagrado, o outro vive num cosmos dessacralizado, inerte na materialidade. Do ponto de vista do Homo Religiosus, a realidade profana possui “rupturas” em que o Sagrado emerge, isso é facilmente identificável em todas as religiões, todo o espaço não é destituído de valor, que uns emergem em maior sacralidade devido a hierofania e dos rituais locais,(templos, montanhas sagradas etc.) o que não desconsidera os “pequenos sagrados”(objetos simbólicos, canto de reza, santuários em casa por exemplo). Visto que o universo é uma criação divina, ele em si, apresenta-se como uma grande hierofania portanto, assume uma visão panteísta. Dado os rituais de caça entre outros, não é algo mundano mas, significativo.

Algo em que o Homem Moderno tenta dissuadir a si de que está extirpado é de todo o passado em que compartilha com o Homo Religiosus, nem mesmo o mais fervoroso racionalista está totalmente imerso na profanidade, pois este possui seus hábitos próprios e inconscientemente sagrados, prefere este a companhia dos pais, do lar de seus avós do que outros ambientes que desconsidera, atribui sacralidade minimamente mais relevante sobre um do que outro, possui seus locais costumeiros… pois, se tudo é puramente material e sem valor, porque uns se relevam mais que outros?

Fonte

Introdução a Mitologia, José Benedito de Almeida Júnior, Paulus Editora, 2014